sexta-feira, 11 de abril de 2008
"A qualidade desta democracia"
"Uma jornalista apresenta um projecto de documentários a uma produtora de audiovisual. A produtora acolhe o projecto e apresenta-o a um canal público de TV, que encomenda os documentários. Um partido político resolve tratar esta decisão como uma "contratação" da jornalista para o canal público e qualifica-a de "pornográfica", anunciando um "requerimento" para "pedir explicações". E que apresenta o partido, como fundamento de tão trepidante indignação e fino palavreado? A inexperiência televisiva da jornalista (falso); as suas opiniões (intolerável); a sua vida privada (abjecto).
Não, não sucedeu na Venezuela de Chávez nem na Rússia de Putin, para nos ficarmos apenas por países com democracias, digamos, de qualidade duvidosa, e onde a intimidação ostensiva de jornalistas é comum. Foi por cá e o partido dá pelo nome de PSD - o mesmo que enquanto se diz "muito preocupado com a qualidade da democracia portuguesa" interdita congressos a jornalistas por "não serem confiáveis".
O que, convenhamos, bate certo, deprimentemente certo. Um país no qual um partido que foi de Sá Carneiro, que forneceu o actual presidente da República e que ainda hoje pretende ser alternativa credível de governo acha que se pode permitir este comportamento de ditador carroceiro é um país no qual a qualidade da democracia deixa a desejar. Não tanto, claro, que este tipo de gesto dê dividendos; não tanto que não se erga, da esquerda à direita (sobretudo na blogosfera) um coro de indignações, a que se junta a do Sindicato dos Jornalistas, acusando este atentado à constitucionalmente sagrada liberdade de expressão - mas é pouco, como consolo.
Sabemos que o carácter precioso da liberdade tem, para muita gente, dias - como quem diz cores, cartões, conveniências. Só que quando dirigentes partidários com assento no parlamento e passagem por cargos governativos acham que podem imiscuir-se, publicamente e sem qualquer disfarce, nas opções editoriais de um canal público e na liberdade profissional de um jornalista, procurando condicionar o primeiro e assumindo a pura perseguição pessoal do segundo, ante o silêncio da maioria das sentinelas dos fascismos que amanhecem e a cumplicidade acéfala de outros jornalistas - aqueles que seguram o microfone e a caneta e a quem jamais ocorre a pergunta óbvia, a saber, qual é mesmo o problema do PSD com esta jornalista -, chegou-se a um novo patamar. Aquele em que tem de se explicar tudo do princípio. O que é um jornalista e para que serve, o que é a vida privada e para que não deve jamais servir. Em suma: o que é a civilização e a democracia. E a decência, já agora. Sabendo, claro, que há mentes pornográficas nas quais nenhum princípio tem guarida".
Fernanda Câncio
jornalista
comentário: Toma, e embrulha!
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Um comentário:
Confunde qualidade da democracia com a qualidade das decisões.
A diferença entre a contratação da Fernanda Câncio e a desculpa do cigano que jurou não ter roubado o burro pode não ser nenhuma.
Recordando, o cigano teria desculpado-se de que estando em cima de uma figueira a apanhar uns figos para os seus meninos, um ramo partiu-se e ele caíu desamparado da figueira. Quis o destino que na queda tenha ficadon por mera coincidência escarranchado em cima de um burro que pastava debaixo da mesma figueira.
Assustado, o burro galgou a trote e o cigano só se limitou a segurar-se em cima do burro e a deixar-se ir...
Não ia a fugir com o burro, não senhor... O burro é que fugiu com o cigano!
E ainda poderia falar-lhe de outra decisão, que não meteu "cigano" mas um alto dignatário por sinal este era do PS.
à decisão sobre uma grande empreitada, três orçamentos havia: o A, o B e o C.
O A tinha o preço mais alto e assegurava a boa execução dos trabalhos com base na assessoria da empresa B e nas especificidades técnicas da firma C.
A empresa B apresentava com executora técnica C e dava o preço intermédio.
Finalmente, a empresa C cuja capacidade técnica para a execução era única no sector oferecia o preço mais baixo.
O meu amigo estava para propoôr a empresa C a vencedora, quando alguém lá do alto, junta um cartão a dizer simplesmente isto:
- Adjudique-se à empresa A.
Ponto final, parágrafo!
A qualidade da democracia não vem ao caso. quanto à qualidade da decisão é o que está à vista...
E se olharmos aqui ao lado para ALVEGA, até se percebe como foi "interessante" ver a "qualidade" da "decisão" de anunciar o fecho não para 2010, mas já em 2008.
Veio a ministra e o 1º ministro e o sorridente Lacão e não é que a ESCOLA de ALVEGA já não fecha.
Milagre do Dr. Lacão!
Aquele sorrisinho do Relvas e dos demais deputados do PSD bem ficaram amarelos demais!
Claro que a junta pode "voar" ou colorir para "rosa"...
Vai uma aposta?!
Que quer?!
Dirão: " é a qualidade da democracia", será que tinha mesmo que ser assim?!
E será por aí que se progride?!
Ou não teremos já regredido ao pior da I República, das despudoradas promessas do " bacalhau a pataco?!!!"
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