terça-feira, 8 de abril de 2008

O caso Câncio, José Socrates e o PSD













De João Miguel Tavares, na crónica de hoje do DN, umas verdades muito oportunas:

"No dia em que o Expresso informava que o Jorge Coelho que vai presidir à Mota-Engil é o mesmo que confiou à construtora contratos de mil milhões de euros enquanto ministro das Obras Públicas, Agostinho Banquinho, porta-voz do PSD para a comunicação social, decidiu denunciar um escandaloso favorecimento do Estado: a contratação da jornalista Fernanda Câncio para assinar uma série de dez programas na RTP2 sobre bairros problemáticos. Estranhamente, Branquinho teve uma branca: nem uma palavra sobre Coelho. Uma pessoa com maus pensamentos associaria o lapso aos saltos despudorados entre governos PS e PSD e empresas (Jorge Coelho + Mota-Engil = Ferreira do Amaral + Lusoponte, não sei se estão a ver), mas eu não sou uma pessoa com maus pensamentos. Por isso, prefiro analisar a brilhante argumentação do sr. Branquinho no "caso Câncio" - afinal, é gente que ambiciona ser governo, devemos levá-los a sério.
Argumento 1, segundo Branquinho: "Torna-se incompreensível que a RTP contratualize com entidades externas a feitura de programas para a sua grelha." Tendo em conta que não deve haver um único canal, em todo o mundo civilizado, que não "contratualize com entidades externas", é caso para perguntar quem colocou Branquinho à frente da pasta da comunicação social. Enquanto militante n.º 1 do PSD, Pinto Balsemão já podia ter tido a caridade de convidar o deputado para um almoço, explicando-lhe, com palavras simples, o que é a televisão. É que, tendo em conta o seu Argumento 2 - "A estupefacção é maior quando se contratualiza com alguém que não tem experiência televisiva" -, Branquinho pode ter problemas com as palavras complicadas: Fernanda Câncio tem vários anos de experiência televisiva, em jornalismo de investigação. E, por fim, o Argumento 3: uma contratação dessas só se justifica "quando acrescenta valor acrescentado" (sic). Aqui, podíamos aconselhar a Agostinho Branquinho a leitura dos livros de reportagem de Fernanda Câncio, não fosse ele ter manifestas dificuldades com o português.
O que Agostinho Branquinho não disse à Lusa, porque preferiu a insinuação cobardolas - mas eu digo por ele -, é que todo este episódio vergonhoso só existe para sugerir que José Sócrates andou a pressionar a RTP para fazer um favorzinho a Fernanda Câncio. Sócrates, que ainda há poucos anos era homossexual (lembram-se?, foi no tempo do amigo Santana), agora parece que se transformou num heterossexual furioso, empenhado em arranjar tachos à namorada. É este o PSD que temos. E é esta a gente que quer mandar no País. Só duas palavrinhas (muito simples): vade retro."

Nota da autora do Blog: Estive e estou-me nas tintas para a orientação sexual de J. S.Não é da minha conta!Mas, ocorreu-me agora que, há altura dos acontecimentos aqui recordados pelo João Miguel, ouvi de alguns dos seus pares, assim quase que em segredinho, muitos sofredores, comentarem que...pois...enfim...isso era uma chatice...mas parecia que sim.
Que Deprimentes!

Um comentário:

João Baptista Pico disse...

"Que deprimentes!"
Nem mais.
Li o artigo (de ontem, para mim)do João M. Tavares, que enferma da falta de profundidade das explicações e dos argumentos que utiliza.
Parece um jogo de cabra-cega que faz com nomes, palavras e preconceitos e/ou slogans.
Jorge Coelho versus Ferreira do Amaral, tem pouco a ver uma coisa com a outra, a não ser que ambos foram ministros das Obras Públicas e ambos foram "cair" em "CEO" de duas empresas com quem negociaram contratos fabulosos.
No limite F.Amaral segurou uma ponte e J. Coelho deixou cair a ponte.
Só com uma diferença: enquanto a Lusoponte tem o "monopólio" das receitas das pontes de Vila Franca para a foz do Tejo, e por aí se fica, a Mota /Engil tem auto-estradas a render e tem a suprema ambição de tutelar as restantes, e de arrematar todos os contratos de construção e obras públicas deste país e arredores e tendo
Jorge Coelho por perto, logo se avistam fortes possibilidades de entrarem em jogo as maiores obras do século, aeroporto,pontes,TGV e 10 barragens - 9, porque o açude por cá já acabou com a 1oª a avaliar pela versão Lacão...- pelo que à Mota/Engil já não lhe chegava ter o Ex-ministro (de Cavaco),do Planeamento Valente de Oliveira ou o anterior secretário de Estado de Barroso, pelo que foi buscar o dirigente do PS com imensa influência no aparelho e que só pelo facto de ter sido um dos três únicos oradores do Comício do Porto de há dias, mostra como o seu peso ainda lidera dentro do PS.
Certamente, que esse facto, não pode deixar de ter a sua influência, uma vez CEO da maior construtora do país.
Ferreira do Amaral é engenheiro.
Jorge Coelho é jurista. Melhores do que eles como técnicos em si,havia centenas...
Mas essa transposição do aparelho do Estado para as grandes empresas já se fazia sentir no tempo de Salazar. Marcelo lembrou o livro de Raúl Rego, que me foi dado ler à sucapa pelo meu instrutor de condução, que era da "oposição ao regime", estavamos em 1969 e já havia sido anos antes o instrutior do meu pai.
Era um livro proibido, como se percebe.
Jorge Coelho ainda está para gerar muita controvérsia e "escândalos".
É só esperar pelos vencedores desses mega-concursos...
Fernanda Câncio escreveu umas coisas sobre bairros problemáticos. Mas com a sua habitual visão sectária não dos temas que são em si universais, mas pela condicionante e enorme carga política-ideológica em que encerra essas abordagens, não me parece que possa ser uma escolha desinteressada ou pacífica.
E as reportagens que fez, muitos outros as poderiam fazer.
Mais: nem vejo que a dimensão do problema - bairros problemáticos - não pudesse ser entregue a uma equipa "multidisciplinar", já que envolve grandes questões de índole social, urbanística e étnica.
No final de contas, não é assim tão linear a " a anterior experiência televisiva da Fernanda Câncio", como JM Tavares parece querer justificar.
Isso até Manuela Moura Guedes fez...
Mas não seria com uma ou com outra que chegaríamos às contratações mais coerentes e ponderadas, tendo em vista o "interesse dos espectadores e o interesse em encontrar novo espaço de discussão do tema".
Como referia num post anterior, e aprofundandoa a pergunta pertinente que fez: de que falarão Sócrates e a Fernanda em casa?
Eu acrescentaria: até que ponto o alinhamento desses dez programas não poderão seguir um "guião" do próprio governo para ir dando outros sinais de rresolução dos problemas à medida das abordagens que a F. Câncio "vai" preparando?!
E chegados a este patamar, venha o diabo e escolha...
Claro está que os PSD são os tipos que nos podem ir governar, mas os que lá estão, sempre têm uma vantagem: têm um JMTavares e quejandos que não deixam de serem uns escribas úteis neste percurso...