terça-feira, 2 de outubro de 2007

Com todo o respeito, mas o país está mesmo doido




Por ser terça-feira, é de dia de reproduzir a crónica do João Miguel Tavares, publicada no DN.
Pela 2ª semana consecutiva, tenho de discordar do meu cronista favorito.
Por isso, deixo-lhe este recado:
Meu caro, a questão não está no Santana Lopes ou no José Mourinho. Creio que muitos de nós manteriamos o mesmo sentimento de respulsa pelo acontecido com quaiquer outros protagonistas ou perante qualquer outro assunto em debate. Sejamos claros: a SIC quando convida Santana Lopes sabe perfeitamente que as audiências sobem. Santana gosta do protagonismo mediático mas os média é que lho proporcionaram. A SIC interrompeu a entrevista, para um exterior no qual aos costumes disse nada. Fê-lo apenas para resgistar que Mourinho havia chegado e estava cansado (daaaaaaaaaaa). Todos sabemos da importância que o directo tem para as radios e televisões. Mas bolas, há limites!
Cá vai a crónica:
"E de repente, o homem é um herói nacional, porque levantou o rabo da cadeira e saiu dos estúdios da SIC antes de uma entrevista acabar. Da esquerda à direita, aplausos e aplausos e aplausos. Ao ousar rebelar-se contra a ditadura do directo televisivo, Pedro Santana Lopes transformou-se em referência moral da nação. Viva o Pedro Santana Lopes! Eu também estou quase a aplaudir. Estou quase, quase, quase, quas…, qua…, q… Mas esperem lá. Paremos para pensar um bocadinho. Aquele é o Pedro Santana Lopes. E aquela era uma entrevista sobre as directas do PSD. Ora, Santana Lopes indignar-se por ter sido interrompido por um directo idiota faz tanto sentido quanto Cicciolina ruborescer ao ouvir um piropo na rua. Aquele homem nasceu, viveu e morreu na televisão. Armar-se em virgem ofendida? Ele? Não pode.

E depois, há o contexto. A reacção pressupõe, além de uma boa dose de pedantismo, que há uma espécie de superioridade moral da política sobre o futebol. Num país normal e civilizado, eu não duvido. Mas em Portugal? Qual é a ascendência moral destas eleições no PSD - que ele vivamente comentava antes da chegada de "um treinador de futebol" -, onde se discutiu a existência de sociais-democratas na Amazónia e a possibilidade física de centenas de militantes se terem empilhado ao mesmo tempo em torno de uma caixa multibanco para pagar quotas? Aliás, qual é a linha que separa a política do futebol quando olhamos para os amigos e apoiantes de Luís Filipe Menezes? Convém recordar aos distraídos que o PSD acabou - para evidente felicidade de Santana Lopes - nas mãos de um homem que no discurso de vitória garantiu que o seu partido é "maravilhoso" e que chamou "vivacidade" a três meses de peixeirada. É isto que vale mais do que Mourinho na Portela?

Cito Santana: "Acho que o País está doido, com todo o respeito. Por isso não continuo a entrevista. O País tem de aprender." Eu sei que a memória do pessoal é curta, mas ouvir Santana dizer "o País tem de aprender", em tom professoral, sabendo nós o estado em que deixou o País, é a mesma coisa que ver um talibã a discursar sobre a qualidade da estatuária budista - não bate certo. É verdade que a SIC se portou mal e que não foi lá muito esperta ao esconder as imagens do que se passou, mas a indignação de Santana é apenas uma mistura de marketing e sobranceria. Pessoalmente, dispenso. Embora numa coisa eu esteja de acordo com toda a gente: é sempre muito mais interessante ver Santana Lopes a sair de um estúdio de televisão do que a entrar nele.|

Um comentário:

Anônimo disse...
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