domingo, 25 de fevereiro de 2007

Ignorantes e despreocupados



Ferreira Fernandes escreveu ontem no seu "bilhete postal", do Correio da Manhã, esta interessante prosa, muito reveladora de um certo desinteresse pela preparação para a vida, especialmente nas camadas juvenis. São dados, a partir de um estudo sociológico, para serem levados muito a sério.

Fica aqui um excerto, porque a crónica por inteiro só mesmo na edição impressa.

"Dois sociólogos, Elísio Estanque e Rui Bebiano, fizeram um inquérito aos estudantes de Coimbra. O que lêem, como se preparam para vida?

Um terço nunca lê jornais. Um quinto não pegou, no último ano académico, num só livro. Outra conclusão: são cada vez mais os que só pensam na vidinha, depressa e já. É um estudo, são letras, para quê lê-las? As conclusões, a cores, passam todas as noites na RTP 1, no programa ‘Um Contra Todos’ – com a vantagem de o âmbito não ser coimbrão e jovem, mas nacional e de todas as idades. Aí, a pior das ignorâncias: tê-la e não o saber, a ponto de ousar expô-la sem vergonha. Quanto à programação da vida, já vários concorrentes nos explicaram como a fazem: “Profissão? Estou desempregado. O que vou fazer se me sai o prémio? Viajar.”

Ah, pois é!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

mexidas no DN



Por esta hora estou a ser surpreendida com a noticia da demissão de António José Teixeira da direcção do Diário de Noticias. Parece que o presidente da GlobalNotícias, Joaquim Oliveira, está insatisfeito com o resultado das vendas do jornal.

O que não é de estranhar! Competência não joga mesmo com interesses económicos.

O Expresso on line acrescenta que se fala de João Marcelino, actual director do Correio da Manhã, para a substituição.

Vamos andando!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

O caso doloroso da Sociologia na ESTA

A minha tardia incursão no ensino superior não está a correr nada bem. É preciso assumi-lo, antes dos comentários que se seguem. E, como não estÁ a correr tão bem, sinto-me até mais livre para escrever algumas constatações.
Estava avisada para o facto mas, (ver para crer) não passei mesmo o “cabo das tormentas” da Sociologia. Fiquei tão arrasada com a mísera nota da 1ª frequência, que de imediato sepultei o assunto. Dou-me por chumbada à cadeira de que se fala no seio da vida académica da ESTA. Mas não é do meu caso pessoal que vou falar. Esse não interessa. Está assumido. Passemos à frente. Falo do colectivo e do geral.
Afinal, como é que se explica o índice de insucesso da cadeira de Sociologia, no Curso de Comunicação Social da ESTA? Este bem poderia ser um bom repto para um estudo sociológico. Seria muito curioso analisar a dificuldade de uma maioria significativa de alunos que chega ao 3º ano do curso, com o apêndice da Sociologia. Não estou a inventar um dado novo. Uma avaliação externa, realizada em 2005 ao curso de C.S. da ESTA, por uma equipa liderada pelo Sociólogo Paquete de Oliveira, refere precisamente que: “Os casos de insucesso na cadeira de sociologia não têm uma razão muito clara…”. E de facto, não têm! A minha experiência pessoal, diz-me que o docente é, francamente, muito bom, no que ao leccionar das aulas diz respeito. Tem as suas características muito peculiares, é certo! Mas essas também não são para aqui chamadas. Entrega as notas fora dos prazos, é certo! Mas, que isso não sirva de bode expiatório. Facilita o aluno com fichas de trabalho, a partir das quais selecciona as questões para os exames (creio até que não seja prática corrente no ensino superior). O que é facto é que, sabido hoje o resultado do 1º Exame, dos cerca de meia centena de alunos admitidos e presentes, apenas um se safou com 11. O resto, é o costume. Abaixo de cão. Seremos todos burros? Não me parece, tendo em conta os resultados do aproveitamento nas restantes 7 cadeiras. Será o professor exigente? Certamente! Está a fazer o papel dele. É para isso que pagamos propinas. Queremos ser bem formados. Mas em 50, só um é que se safa?
Um caso que fica para reflexão. A juntar a outros como por exemplo, voltando à avaliação externa, o plano curricular deste curso que é demasiadamente centrado em cultura geral e não propriamente em comunicação (o que é que Bolonha aí trará!?); a eterna desculpa dos cortes orçamentais que origina a “agonia” da falta de docentes ou a sobrecarga dos mesmos (será?), etc, etc.
E já agora: Uma Escola de Comunicação Social merecia uma melhor presença na Internet. É que nem as últimas edições do bem conseguido Jornal da Esta (parabéns Drª Hália) merece publicação. Uma Escola de Comunicação Social, sublinho! Coloquem os olhos na vizinha Escola Dr. Manuel Fernandes
http://www.esec-manuelfernandes.rcts.pt/
Espreitem e aprendam!

Nota de rodapé: Para o ano lá estarei, completamente empenhada em fazer Sociologia. Até estou a pensar seriamente em defender uma tese sobre o assunto … da Sociologia na ESTA, claro!

domingo, 11 de fevereiro de 2007

yes!


Referendo II

Que grande lição de civismo e liberdade deram hoje os eleitores da freguesia de Rossio Ao Sul do Tejo.
Uma frontal resposta ao pároco Sebastião que aproveitou a missa dominical para apelar ao fieis: Votem NÃO!
Tenha vergonha sr. Padre!
Votação das 4 secções de voto de Rossio Ao Sul do Tejo
Sim: 686 votos.
Não: 240 votos.

Referendo I

Não creio que seja verdade que, como disseram muitos defensores do “Não” esta noite, "Os níveis elevados de abstenção também demonstram que as pessoas não querem uma alteração à lei".
O que acho é que, os 56% de cidadãos eleitores que não se pronunciaram hoje relativamente à possibilidade de alteração à lei, deixaram de ter voto na matéria. Ninguém devidamente credenciado para tal pode afirmar que estes 56% de não votantes não querem uma nova lei. Muitos não estariam, eventualmente, esclarecidos. Outros, tal como eu (que acabei á última da hora por ir votar), defenderiam uma iniciativa legislativa, sem necessidade de referendo, por isso terão deixado o assunto a quem compete: à Assembleia da República. Os motivos terão sido diversos e, para sermos sérios, não podemos estar agora em busca dos bodes expiatórios do costume. As soluções para questões como a organização do serviço nacional de saúde não pode partir para este novo capítulo fragilizado.
2 pequenos comentários: gostei da postura de Sócrates. Sério e sóbrio. Gostei do pano de fundo da sala de intervenções do BE: “bem-vindos ao século XXI”.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

voto SIM



Não admito o tom radical pelo qual enveredou esta campanha. Por isso, abstivo-me de tecer comentários. Aos primeiros minutos do dia de reflexão, apetece-me provocar. Cá vai um belo texto talhado pelo talento de Rita Ferro Rodrigues:
"Carminho & Sandra
Carminho senta-se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe conduz o carro e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de Espanha. Sandra senta-se no banco côr-de-laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela.Encosta o guarda-chuva aos pés gelados e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora. O BMW e o autocarro 22 cruzam-se a subir a Avenida Infante Santo.Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Veste uma bata verde. Deita-se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente-se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme. Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa, brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa de lhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente-se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe-lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surge na estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.Sandra não acorda. E não acorda . E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha - se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre-se de dizer a alguém que eu existo. A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho, cansado, chama o 112 e a polícia.Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse-lhe uma médica, emocionada. Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal.Eu voto sim . Pela Sandra e pela Carminho. Pelas suas mães e avós. Por mim".
Rita Ferro Rodrigues